sábado, 10 de outubro de 2015

EXERCICIO NA GESTAÇÃO

Fiz o post anterior para atender leitores que pediram minha opinião sobre a onda de mamães “saradas” e o fiz como ser humano e pesquisador, até porque ambos são a mesma pessoa! Sou a favor de se treinar na gestação, tanto que acompanhei várias, inclusive a que trouxe meu filho; objetivo é melhorar a saúde da mãe e da criança, o que envolve fortalecimento muscular para aliviar dores, melhorar a circulação, facilitar o parto, controlar glicemia, ansiedade...
Nos comentários, su...rgiram ponderações sobre casos pontuais, especialmente de pessoas treinadas e “bem” acompanhadas. Primeiro, ser treinadas é fator de risco e não de tranquilidade. Estudo de Linda Szymanski e Andrew Satin comparou as respostas cardiovasculares ao exercício extenuante em três grupos de gestantes: não treinadas, treinadas e altamente treinadas; e verificaram que as alterações negativas só aconteceram nas atletas! Dentre elas, um terço levou o exercício ao ponto de gerar bradicardia no feto, ou seja, quanto mais treinada e “motivada” maior o risco de se passar do limite, algo que já havia sido verificado pelo grupo de Salvassen. Portanto, se um profissional estimula, em vez de frear, o ímpeto da gestante treinar em intensidade potencialmente perigosa, será que esse acompanhamento é mesmo “bom”?
Alguns irão alegar que faltam estudos mostrando que o dano ocorra, mas isso é óbvio, é antiético colocar uma criança em risco por nada. Outro ponto levantado é que tanto a bradicardia quanto a hipóxia geradas pelo exercício intenso podem não ter duração suficiente para gerar danos permanentes. Aí eu digo duas coisas, a primeiro é que o fato de “poder’ dar problema já é inaceitável para mim, a segunda é que, mesmo antes de haver dano permanente, há o sofrimento. Algumas formas conhecidas de tortura, como asfixia com sacos plásticos e afogamento, não buscam provocar danos permanentes, mas “apenas” causar hipóxia por alguns segundos! Tudo bem que cada caso é um caso, mas em que caso valeria a pena assumir o risco de fazer uma criança sofrer?
(Paulo Gentil)
Salvesen KA, Hem E, Sundgot-Borgen J. Fetal wellbeing may be compromised during strenuous exercise among pregnant elite athletes. Br J Sports Med. 2012; 46:279–283
Szymanski LM, Satin AJ. Strenuous exercise during pregnancy: is there a limit? Am J Obstet Gynecol. 2012 Sep;207(3):179.e1-6.

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