sexta-feira, 29 de outubro de 2021

COLOQUE OS VELHINHOS PARA TREINAR DE VERDADE

 Olha, eu fico aqui zoando o lance desses treinos diferentões. É complicado ver o pessoal fazendo um monte de firulas em vez de treinar de verdade. O que as pessoas, em geral, precisa é ganhar funcionalidade, desempenho, massa magra, perder gordura e melhorar parâmetros cardiometabólicos. E isso se consegue treinando de verdade, não fazendo rolinho, mobilização, malabarismo e etc. Mas o que mais me preocupa são os casos em que treinar de verdade pode significar a diferença entre a vida e a morte.

.
Se um jovem não aumentar a massa magra, pode ser apenas um problema para o selfie, já para um idoso pode ser a diferença entre andar ou não! Por exemplo, Natsume et al., (2021) avaliaram a espessura de diversos músculos e fizeram testes funcionais em idosos com ou sem a chamada síndrome locomotiva, caracterizada por disfunções que predispõe a internação e acamação. Os resultados mostraram que o tamanho dos músculos nos membros inferiores era menor nos idosos com problemas de locomoção, mas não havia diferença para os membros superiores. Interessantemente, o tamanho dos músculos da parte anterior da coxa estava significativamente correlacionado com os testes funcionais. Ou seja, quanto maiores os músculos, melhor o desempenho em sentar e levantar de uma cadeira e caminhar, seja em linha reta, seja em zigue-zague.
.
Então, pessoal, vamos entender o que realmente é “funcional” para um idoso! Funcional é ganhar massa muscular, funcional é ganhar força, funcional é aumentar a capacidade cardiorrespiratória. Não tentem ficar procurando cabelo em ovo, fazer testes posturais, mobilidade, equilíbrio ou o carai de asa! Coloquem os nossos velhinhos para treinar de verdade, pois é isso que eles precisam e é isso que vai lhes dar mais qualidade e expectativa de vida.
.
Quem gostar do tema já corre para assistir as aulas sobre idosos no @nerdflix_br (https://nerdflix.pa#conhecimentoépoder .
.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com )
Natsume et al., (2021). Site-Specific Muscle Loss in the Abdomen and Anterior Thigh in Elderly Males with Locomotive Syndrome. Journal of Sports Science and Medicine (20), 635 - 641. https://doi.org/10.52082/jssm.2021.635

LEITE É ANTI-FLAMATÓRIO

 Sou da época quem a molecada tomava leite com gosto, era leite de saquinho, leite de caixinha, leite de garrafa, leite em pó, leite puro, leite com toddy, leite com café, leite com manga... opa, esse não, esse mata! Mas hoje não pode mais e, dentre as inúmeras desinformações que levam ao medo, está que o leite é inflamatório. Então, vamos às evidências.

.
Nieman et al. (2021) conduziram uma revisão sistemática com estudos que avaliaram os efeitos do leite e seus derivados em marcadores inflamatórios. No total foram 28 estudos envolvendo diferentes populações (incluindo pessoas saudáveis, com sobrepeso, obesidade e problemas cardiometabólicos). De acordo com as análises, grande parte dos estudos não demonstraram efeitos negativos na inflamação. Uma outra parte, para surpresa de muitos, mostrou que o leite e seus derivados podem ter efeitos anti-inflamatórios, com redução dos níveis de TNF-alfa, ácido úrico, proteína C reativa, MCP-1, IL-6... Detalhe que isso foi visto mesmo com leite integral!
.
Então siga sua vida e pare de ouvir esses picaretas terroristas. Se sua dieta comportar e você gostar, tome seu leite em paz! Aqui eu deixo convite para assistir os vídeos no meu canal do YouTube (https://youtube.com/drpaulogentil ) sobre o tema, basta jogar “Paulo Gentil Leite”. Aliás, faça isso antes de tecer algum comentário besta, por favor!
.
Por falar em “por favor”, por favor não seja a topeira que fala que o leite dura muito tempo nas prateleiras porque o Belzebu colocou o dedo nele! O leite dura mais devido a processos de purificação, chegando a durar 5-10 dias para pasteurização e 4 meses para a UHT, que envolve um processo mais complexo e fica em uma embalagem que o protege da exposição à luz e ao oxigênio. Esses processos não mudam a composição do leite, mas que podem mudar o sabor. Isso não tem nada a ver com conservantes ou intervenção do Sete Peles. Ah, você é intolerante ou alérgico, então o leite faz mal para você, segue o jogo.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com )
Nieman KM, Anderson BD, Cifelli CJ. The Effects of Dairy Product and Dairy Protein Intake on Inflammation: A Systematic Review of the Literature. J Am Coll Nutr. 2021 Aug;40(6):571-582. doi: 10.1080/07315724.2020.1800532. Epub 2020 Sep 1. PMID: 32870744.

INFORMAÇÕES PARA QUEM CORRE NO BRASIL

 Atividade física faz um bem danado, não importa qual! Se você busca se tornar ativo, a dica é começar por coisas que sejam prazerosas e práticas. Nesse campo a corrida sempre aparece como uma ótima opção, pois não precisa equipamentos ou espaços elaborados. Mas, será que as pessoas realmente estão aderindo mais à prática?

.
Para responder a questão, Oliveira et al. (2021) avaliaram a prática de exercício (fazer atividade pelo menos uma vez por semana ao longo dos últimos 3 meses) e de corrida (uso de corrida como forma de exercício) em 625.460 pessoas usando dados do Vigitel.
.
Os resultados mostraram que 2,48% das pessoas corriam. Se considerarmos apenas os praticantes de exercício, o percentual chegava a 5,25%. Sinceramente, eu acho pouco! Outra pergunta: isso vem aumentando ao longo dos anos? Os dados revelaram que sim, nos últimos 12 anos o percentual de corredores aumentou 0,12% considerando a população com um todo e 0,17% considerando apenas os praticantes de exercício. Na boa, eu achei pouco também!
.
Algumas particularidades, a maioria dos corredores eram homens e, no geral, as pessoas que correm são mais jovens. Tanto que pessoas acima de 40 anos eram menos propensas a correr que pessoas de 18 a 29 anos. Estar acima do peso e ter baixo nível educacional também trazia menor probabilidade de ser corredor. Outros fatores que reduziam a probabilidade de se tornar corredor eram assistir TV, fumar, ter diabetes, hipertensão e dislipidemia. Com relação à logística, morar perto de parques, calçadões e pistas de corrida favorecia ser corredor.
.
O que me chamou a atenção: pouca gente corre e as pessoas que mais precisam são as que menos o fazem! Acho que seria uma ótima ideia se a turma que trabalha com isso começasse a direcionar sua atenção para esses grupos, pois com certeza poderá ajuda-los muito a ter uma melhor saúde e qualidade de vida!
.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com )
Oliveira GM, Lopes AD, Hespanhol L. Are there really many runners out there? Is the proportion of runners increasing over time? A population-based 12-year repeated cross-sectional study with 625,460 Brazilians. J Sci Med Sport. 2021 Jun;24(6):585-591. doi: 10.1016/j.jsams.2020.11.014. Epub 2020 Dec 3. PMID: 33341381.

QUANTO TEMPO PARA OS RESULTADOS APARECEREM?

 Nesses dias, andamos conversando muito sobre como a Ciência pode ajudar o Personal Trainer a melhorar suas vendas. Isso é essencial porque está se espalhando uma cultura de vender é enganar. A luta que temos feito (eu representando a parte técnica e Helder Montenegro e Emmanoel Arrais representando a parte de vendas e gestão) é justamente para mostrar que isso não é verdade. O sucesso do Personal Trainer depende de uma relação de confiança que passa pelo posicionamento sincero e viabilização de resultados em longo prazo. Baseado nisso, vou responder a pergunta dos alunos “Quanto tempo leva para o resultado aparecer?”.

.
Obviamente que isso depende dos desfechos, mas se observamos as pesquisas sobre emagrecimento, ganho de massa muscular e melhoras de desfechos clínicos elas, no geral, têm duração de 8 a 16 semanas. No entanto, se pensarmos na diferença entre algo ser detectável pelos instrumentos e se refletir em mudanças perceptíveis, isso pode aumentar bastante. Ou seja, nesse primeiro ponto, eu pediria um compromisso de cerca de 6 meses. E aí vem outro problema, a sustentabilidade. Pois as mudanças são rapidamente revertidas com a interrupção dos treinos, por exemplo, ganha-se peso mais rápido do que se perde; perde-se músculo mais rápido do que se ganha; e parâmetros pioram a mais rápido do que melhoram. Portanto é preciso manter os hábitos! Nesse sentido, as análises sobre o tema mostram que é necessário repetir uma atividade cerca de 66 vezes, sem grandes interrupções, para que ela seja automatizada. Então faça as contas, se você faz algo 3xsemana isso leva 22 semanas, ou cerca de 5 meses. Se você faz 2xsemana isso leva 33 semanas, ou cerca de 8 meses.
.
Entendam agora o absurdo da venda dos projetos de perder 10 arrobas em 30 dias? É errado do ponto de vista fisiológico e psicológico! Pode até dar grana no lançamento, mas lembre-se que a mentira tem pernas curtas! Minha dica é: se você quiser se posicionar com profissional de sucesso e poder assumir compromissos financeiros em longo prazo, seja honesto e faça planos coerentes com seus alunos. Aprendam a vender algo que seja bom para todos! Isso sim é saber vender!
Já deixo o meu convite para entrar no Personal 360: https://letsgo.click/conhecer-personal360
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com )

DORES NO JOELHO, FORTALEÇA OS MÚSCULOS E COMBATA O MEDO

 A era do terrorismo biomecânico fez surgir uma série de vendedores de promessas e propagadores de absurdo. Uma ideia comum é que existe um padrão de movimento ideal e sair desse padrão seria a causa das dores de joelho. Quem nunca viu os terroristas condenando execuções de agachamento ou leg press, afirmando que isso seria a causa de várias problemas?

.
Pois bem, aqui vou trazer dois estudos brasileiros que têm a presença de Danilo de Oliveira da Silva, um dos melhores do Mundo nessa área no momento! O primeiro deles mostra que não há associações entre padrões de movimento e dores no joelho. No entanto, há associações consistentes entre o MEDO e as dores (Silva et al., 2020). Ou seja, condenar movimento não ajuda, pois as alterações não têm relevância clínica, e ainda pode piorar o quadro ao gerar cinesiofobia (conhece pessoas que têm medo de agachar?)! O segundo estudo complementa o anterior ao avaliar a força muscular em mulheres com ou sem dores patelofemorais. Os resultados mostram que a força (isométrica, concêntrica e excêntrica) nos abdutores de quadril era menor em mulheres com dores do que em mulheres sem dores, o que reforça achados anteriores. No entanto há também algo que talvez ainda não seja tão bem difundido: a força dos extensores de joelho também foi menor. Inclusive, houve aspectos em que as mulheres com dores de joelho eram iguais às sem dores para os abdutores de quadril mas tinham prejuízos nos extensores de joelho (Ferreira et al., 2021)!
.
Agora junta isso com outros estudos que comento nas aulas sobre joelhos do @Nerdflix_br, mostrando que fortalecimento muscular promove melhoras clínicas em pessoas com dores patelofemorais e chegamos a valiosas observações práticas: 1) não busquem padrões de movimento, pois isso pode trazer mais problemas que soluções e 2) fortaleçam TODOS os músculos dos membros inferiores de pessoas com dores de joelho, de maneira natural e sem buscar balas mágicas!
.
No final das contas as pessoas parecem precisar de duas coisas: menos medo e mais força! Simples assim. Os artigos estarão no meu grupo do Telegram (t.me/drpaulogentil), confiram lá!
.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com )
Ferreira AS, de Oliveira Silva D, Barton CJ, Briani RV, Taborda B, Pazzinatto MF, de Azevedo FM. Impaired Isometric, Concentric, and Eccentric Rate of Torque Development at the Hip and Knee in Patellofemoral Pain. J Strength Cond Res. 2021 Sep 1;35(9):2492-2497. doi: 10.1519/JSC.0000000000003179. PMID: 31045684.
Silva D, Willy RW, Barton CJ, Christensen K, Pazzinatto MF, Azevedo FM. Pain and disability in women with patellofemoral pain relate to kinesiophobia, but not to patellofemoral joint loading variables. Scand J Med Sci Sports. 2020 Jul 9. doi: 10.1111/sms.13767. Epub ahead of print. PMID: 32645745.

GRÁVIDAS PODEM FAZER ABDOMINAL?

 Se tem alguém que sofre com terrorismo e desinformação é a pobre gestante. Na área do exercício a coisa é totalmente descontrolada. Temos a galera que proíbe todo tipo de exercício. Temos a galera que treina de maneira irresponsável. E ainda temos os terroristas que até prescrevem treinos, mas vivem inventando moda. Como é o caso da condenação do abdominal!

.
Fiz uma enquete e, para minha triste surpresa, a maior parte das pessoas acha que gestante não pode fazer abdominal. Isso é um absurdo! Eu vou resumir aqui algumas informações que falo na aula sobre diástase no @nerdflix_br .
.
Primeiro ponto é que os estudos verificaram que os músculos do abdômen atrofiam durante a gestação (com exceção do transverso). Para você ter ideia, uma mulher que não teve filho tem, em média, 30% a mais de massa muscular no reto abdominal em comparação com uma mulher no pós-parto! Outra coisa que é bem verificada é a perda de força e função dos músculos abdominais, com redução na força de rotação e no desempenho na flexão de tronco. Essa perda de massa e função pode ter várias consequências negativas, tanto estéticas quanto para a saúde.
.
E não venham falar sobre diástase! Pois vou resumir de maneira direta: os abdominais tradicionais reduzem a diástase! Já as invenções malucas e técnicas especiais AUMENTAM. Inclusive, existe uma correlação entre a função dos músculos do abdômen e o tamanho da diástase. Portanto, seja porque uma mulher com diástase perde função, seja porque a perda de função causa diástase, é preciso sim fazer abdominal em gestantes e no pós-parto! E digo abdominal raiz mesmo, o básico! Agora, obvio que pode ser necessário fazer algumas adaptações para gerar conforto e segurança.
.
Vamos parar com esses mitos absurdos! Além da aula sobre Diástase, recomendo MUITO que vejam as aulas sobre gestantes no @nerdflix_br . Os artigos citados estão todos lá.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com )

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

EFEITOS DO CIGARRO NA MASSA MUSCULAR

 Dentre os vícios, o tabagismo está entre os que que tem mais comprovação de danos. No entanto, um campo que as pessoas exploram pouco é sua associação com massa muscular. Em estudo de Ajime et al. (2021) ratos recebiam dietas ricas ou pobres em vitamina D eram ou não exposto ao cigarro. Vários aspectos foram avaliados, como alterações no peso, massa muscular e resposta à sobrecarga. Como a dieta pobre em vitamina D foi algo muito fora da realidade, vou me concentrar na questão do cigarro, ok? Qualquer coisa, vocês podem falar com meu nutri, o @felipenassau para obter mais informações nessa área.

.
Como esperado, a exposição ao cigarro levou à inflamação pulmonar e houve menor aumento de peso ao longo do tempo, o que parece ser devido à redução na ingestão calórica. De fato, ganho de peso e aumento de apetite é relatado por várias pessoas ao parar de fumar. A minha sugestão é que você busque um nutricionista para adotar uma dieta que dê mais saciedade com mais qualidade e busque um profissional de Educação Física para prescrever um treino que mantenha seu gasto energético elevado e favoreça o controle da ingestão calórica e a busca por alimentos mais saudáveis.
A exposição ao cigarro também levou à perda de massa muscular ao longo do tempo, apesar dos músculos ainda hipertrofiarem em resposta à sobrecarga. Os efeitos negativos no cigarro na perda de massa muscular já haviam sido identificados em estudos anteriores, tanto em animais quanto em humanos. Ou seja, além dos diversos danos comumente falados, o cigarro parece fazer seus músculos irem embora mais rápido e isso, vai deixar você mais exposto a vários problemas de saúde, como a sarcopenia. Além disso, devemos lembrar que os músculos liberam várias substâncias importantes para manutenção da saúde (miocinas) e sua redução leva ao aumento de muitos problemas cardiometabólicos.
.
Temos aí mais um motivo para estimular que as pessoas parem de fumar!
.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com
)
Ajime TT, Serré J, Wüst RCI, Burniston JG, Maes K, Janssens W, Troosters T, Gayan-Ramirez G, Degens H. The combination of smoking with vitamin D deficiency impairs skeletal muscle fiber hypertrophy in response to overload in mice. J Appl Physiol (1985). 2021 Jul 1;131(1):339-351. doi: 10.1152/japplphysiol.00733.2020. Epub 2021 Jun 3. PMID: 34080919.

SENTIMENTO NÃO É EVIDÊNCIA CIENTÍFICA

 Atenção, leia e salve para te disserem “eu sinto”.

.
A sensação em um músculo vem de estímulos de receptores periféricos que enviam mensagens por vias aferentes, as quais chegam ao cérebro pelo lobo parietal (bem na parte de cima da sua cabeça). As sensações dependem de várias coisas, como a quantidade de receptores sensoriais, o que torna algumas zonas mais “sensíveis” do que outras (tipo ponta dos dedos vs posterior de coxa). Além disso, existem variações de pessoa para pessoa (há pessoas mais sensíveis que outras) e para a mesma pessoa, com influência do estado emocional e outros fatores. Por exemplo, o lance de “isso vai doer quando o sangue esfriar” e da dor que fica maior quando você pensa nela.
.
Isso ocorre porque as sensações só existem quando você toma consciência delas pela representação no seu cérebro, o que não precisa ter relação com algo físico. Por exemplo, após amputação há dor em membros que sequer existem (dor fantasma). Por outro lado, alguém anestesiado não sente dor mesmo que haja uma lesão grave. Outro exemplo é que você pode sentir ou deixar de sentir dores sonhando ou sob hipnotize.
.
O que isso tem a ver com movimento? Nada! O estímulo do movimento consciente começa no lobo frontal (parte anterior da cabeça) e segue pelas vias eferentes até chegar aos músculos. Ou seja, sensações e movimentos envolvem estruturas diferentes do sistema nervoso. O que isso tem a ver com as adaptações? Nada também! Os mecanismos de adaptação estão dentro das células, em locais onde não há receptores sensoriais. Não é possível sentir a síntese proteica ou o bloqueio de uma via catabólica! Portanto, não é possível “sentir” se um exercício vai funcionar. Quando muito, você sente dor, aí voltamos ao início do texto onde explico o que são as sensações! E podemos fazer isso até ficar claro que sentir algo não quer dizer muita coisa, já que sua simples “vontade” ou “auto sugestão” podem nos levar a sentir algo que não existe ou, por outro lado, nos fazer deixar de sentir algo que exista.
.
Simples assim. Mas se a pessoa não quiser Fisiologia básica, manda coçar o cool com um serrote!
.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com
)

CORTAR CARBOIDRATOS PREJUDICA A HIPERTROFIA

 Algumas premissas: carboidrato não faz mal; baixa ingestão de carboidratos está associada à redução da expectativa de vida; não há evidências que dietas pobres em carboidratos tragam benefícios sobre uma alimentação equilibrada. Se alguma dessas premissas é novidade para você, ou se quiser saber mais sobre elas, olhe meus posts anteriores e os vídeos no meu canal do YouTube (https://youtube.com/drpaulogentil

). Agora eu vou trazer mais um argumento CONTRA essa maluquice.
.
Um estudo de Margolis et al., (2021) submeteu jovens ativos a um protocolo de depleção de glicogênio, com treino intervalado até a fadiga! A seguir, os participantes seguiam uma dieta normal ou pobre em carboidratos e retornavam ao laboratório para uma sessão de 80min de ciclismo. Nesse dia, os participantes ingeriam carboidratos antes e durante o exercício. Então a sequência foi a seguinte: 1) depleção de glicogênio, 2) ingestão normal ou baixa de carboidratos, 3) sessão de exercício e 4) acompanhamento.
.
De acordo com os resultados, a baixa ingestão de carboidratos reduziu os níveis de marcadores de construção muscular (PAX7, MyoD e miogenina). Traduzindo, isso sugere que haveria prejuízo na recuperação dos músculos, do tecido muscular mesmo, e não apenas das reservas energéticas! Perceba que antes e durante o exercício houve ingestão de carboidratos, mas isso não evitou os prejuízos de comer pouco carboidratos nos momentos anteriores.
.
Então, vamos lá. Se esse negócio de cortar carboidratos pode reduzir sua expectativa de vida, além de prejudicar o desempenho e não favorecer o emagrecimento, por que diabos fazer? Simples, porque os depoimentos são mais próximos de integrantes de uma seita, com testemunhos de fé e hipérboles fanáticas. Por que é tão difícil entender que uma alimentação equilibrada é o sucesso para uma boa saúde e bons resultados???
.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com
)
Margolis LM, Wilson MA, Whitney CC, Carrigan CT, Murphy NE, Hatch-McChesney A, Pasiakos SM. Initiating aerobic exercise with low glycogen content reduces markers of myogenesis but not mTORC1 signaling. J Int Soc Sports Nutr. 2021 Jul 10;18(1):56. doi: 10.1186/s12970-021-00455-z. PMID: 34246303; PMCID: PMC8272266.

PARA QUE SERVEM OS "ROLINHOS"

 Uma das aulas que mais gerou mimimi foi a sobre liberação miofascial. Para entender a questão, vamos frisar 2 pontos: 1) ganhos de capacidade física e melhoras na composição corporal melhoram a saúde a aumentam a expectativa de vida e 2) falta de tempo é o principal motivo para não se praticar atividade física, seja por não começar, seja por abandonar. Aí, ao invés de treinar de verdade, tem maluco que fica colocando alunos por tempos intermináveis em cima de rolinhos! Além disso não atender o fala o “ponto 1”, ainda traz o problema do “ponto 2”! E, para piorar, saporra nem ao menos atua seletivamente em tecidos conectivos! Quer ver?

.
Yoshimura et al. (2021) usaram 3 séries de 1min de auto aplicação de liberação miofascial com rolinho, com 30s de intervalo. As aplicações eram feitas na panturrilha e havia até uma plataforma de força para avaliar a pressão. Na situação controle, essas pessoas simplesmente ficavam deitadas.
.
A liberação aumentou a amplitude de movimento de maneira significativa por 15min para a flexão plantar e 30min para a dorsiflexão. No entanto, não houve diferença na sensação de dor e tampouco na morfologia dos músculos e tecido conectivo! Uai, não liberou a fáscia? Nops. Segundo os autores, os efeitos têm mais a ver com alterações de temperatura e de hidratação causadas pela pressão, além da possibilidade da pressão produzir relaxamento, com maior ativação do sistema parassimpático. E viu a duração do efeito? Dependendo do tempo que você passa sensualizando no rolinho e da duração do seu treino, grande parte dos efeitos estarão anulados quando for fazer um determinado exercício! Seria muito melhor pegar uma carga leve e aquecer no próprio movimento!
.
Antes que chorem, eu tenho um rolinho desses e uso quando estou com dores e “tensões” em alguma região. É bem legal! Mas isso não é necessário o tempo todo para todo mundo. Confiram as aulas sobre esse tema no @nerdflix_br ! Elas estão muito fodas!
.
Eu mandei o artigo no meu grupo do Telegram. Para entrar clica em t.me/drpaulogentil
.
PS: é pecado querer chutar essa galera que fica brincando de gangorrinha em vez de treinar de verdade?
.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com )
Yoshimura A, Inami T, Schleip R, Mineta S, Shudo K, Hirose N. Effects of Self-myofascial Release Using a Foam Roller on Range of Motion and Morphological Changes in Muscle: A Crossover Study. J Strength Cond Res. 2021 Sep 1;35(9):2444-2450. doi: 10.1519/JSC.0000000000003196. PMID: 31136541.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

CERVEJA E EXERCÍCIO

 Apesar de ser mais do vinho (especialmente do @vinhobolsonaro, apesar deles terem que esquecido

☹), eu gosto de comentar sobre o cerveja para alertar que a vida pode ser leve e equilibrada. Hoje vou trazer uma revisão sistemática sobre cerveja e exercício para esclarecer alguns pontos (Wynne & Wilson, 2021). Inclusive vou publicar na quarta evitar a influência do final de semana.
.
Em relação aos efeitos agudos, o artigo revelou a hidratação não é influenciada por pequenas doses de cerva (<700ml). Mas o prejuízo pode ocorrer quando se precisa de hidratação rápida, como no caso de fazer outra atividade em menos de 6 horas. Outra dica importante... anotem aí, pois é MUITO importante! É que beber mais que 900ml de cerveja antes dos treinos pode influenciar no desempenho e você corre o risco de fazer sapinho, supino para miolo do peito, coices e umbigadas!
.
Em relação aos efeitos crônicos, a cerveja ela pode ter efeito anti-viral e anti-inflamatório devido aos polifenóis, reduzindo o risco de adoecimento. Sobre as adaptações ao treino, a ingestão de doses moderadas (~660ml diários para homens) não parece comprometer os ganhos de força, massa magra ou a perda de gordura. Mas é importante lembrar o excesso de álcool interfere na síntese proteica e reduz os ganhos de massa muscular. A dose de álcool que produziu efeitos negativos (nos resultados e na saúde) ficava na casa dos 480ml de álcool por semana, o que daria uns 10 litros de cerveja ou quase 5 garrafas do @vinhobolsonaro. Confesso que até consigo se me esforçar... mas é bastante coisa!
.
Enfim, leiam e interpretem adequadamente. Ingestões exageradas de bebidas alcoólicas tem malefícios; mas a abstinência completa não trará grandes benefícios. Eu tenho optado pelo vinho, até porque bebe-se mais devagar e normalmente envolve opções culinárias e situações sociais que dificultam o exagero. Quando vou de cerveja procuro beber água e comer algo menos danoso, pois isso reduz a ingestão total de álcool e ajuda com hidratação e glicemia. Se você optou pela abstinência, tudo bem também. Sejam felizes e moderados, até porque ainda é quarta-feira!
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com
)
Wynne JL, Wilson PB. Got Beer? A Systematic Review of Beer and Exercise. Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2021 Jul 20:1-13. doi: 10.1123/ijsnem.2021-0064. Epub ahead of print. PMID: 34284350.