quarta-feira, 30 de julho de 2014

HORMÔNIOS BIOIDENTICOS

Ah tá! E você acreditou? Fala sério!?

Estou vendo uns Liars vendendo os hormônios bioidênticos com promessas que vão do antienvelhecimento à melhora da estética e do bem-estar. Em primeiro lugar, as variações "bioidênticas" poderiam ser um... retrocesso em termos de qualidade farmacológica em muitos casos, pois muitos medicamentos foram produzidos justamente para minimizar efeitos indesejados enquanto maximizam os positivos, tanto que diversos estudos apontam que os "bioidênticos" são menos eficientes que os hormônios vendidos regularmente.

A Sociedade de Endocrinologia dos EUA adverte que a fabricação individualizada de hormônios é uma falácia e os endocrinologistas sérios alertam que deve-se procurar os produtos produzidos com tecnologia de ponta, ao invés das famigeradas manipulações, que não tem sua qualidade assegurada e não são controladas por órgãos fiscalizadores, como ANVISA.

E dizer que bioidênticos são novidade é mentira, pois hormônios idênticos aos produzidos pelo corpo, como tiroxina, progesterona, testosterona e hormônio do crescimento são usados há muitas décadas. Deve-se ressaltar também que o excesso de hormônio pode causar problemas de saúde, independente de sua origem, tanto que a produção excessiva de hormônio pelo próprio corpo pode levar a problemas como hipertiroidismo, acromegalia, hiperinsulinemia, hiperandrogenia, Síndrome de Cushing, aldosteronismo, etc.

Enfim, os hormônios bioidênticos não tem qualidade superior aos demais, não são isentos de risco e não devem ser prescritos por qualquer um. Além disso, sua administração para melhorar performance, estética ou evitar envelhecimento é uma prática condenada pelas principais associações de saúde do Mundo, mas que vêm sendo empurrada para população por meio de afirmações falsas e incoerentes! Então vamos usar nosso conhecimento, senso crítico e nosso bom senso, para não cair em mentiras e tampouco espalha-las.

(Paulo Gentil)

Boothby LA, Doering PL. Bioidentical hormone therapy: a panacea that lacks supportive evidence. Curr Opin Obstet Gynecol. 2008 Aug;20(4):400-7. doi: 10.1097/GCO.0b013e3283081ae9.
Files JA, Ko MG, Pruthi S. Bioidentical hormone therapy. Mayo Clin Proc. 2011 Jul;86(7):673-80, quiz 680. doi: 10.4065/mcp.2010.0714. Epub 2011 Apr 29.
Korownyk C, Allan GM, McCormack J. Bioidentical hormone micronized progesterone. Can Fam Physician 2012;58:755.
McBane SE, Borgelt LM, Barnes KN, Westberg SM, Lodise NM, Stassinos M. Use of compounded bioidentical hormone therapy in menopausal women: an opinion statement of the Women's Health Practice and Research Network of the American College of Clinical Pharmacy. Pharmacotherapy. 2014 Apr;34(4):410-23. doi: 10.1002/phar.1394. Epub 2014 Jan 4.
Pattimakiel L, Thacker HL. Bioidentical hormone therapy: clarifying the misconceptions. Cleve Clin J Med. 2011 Dec;78(12):829-36. doi: 10.3949/ccjm.78a.10114.
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sexta-feira, 25 de julho de 2014

REPOSIÇÃO HORMONAL???

Reposicao hormonal ???????
Quando escrevi sobre as alterações de voz nas “musas” e sua possível associação com o uso de testosterona, me fizeram diversas perguntas, uma delas era sobre o vídeo que gerou a polêmica, motivo pelo qual postei um pedaço dele. Não sei se a... pessoa do vídeo (ou qualquer outra que ficou com a voz estranha) tomou testosterona, apenas sei que um dos efeitos colaterais da testosterona é a alteração na voz, conforme já havia falado. A outra pergunta era sobre modulação ou “reposição” hormonal (entre aspas mesmo). As pessoas queriam saber basicamente se isso traria os mesmos problemas que tomar bomba. E a resposta é sim, pois isso é tomar bomba, a diferença é que quem prescreve não é o marombeiro, mas um cara de jaleco.

Devemos lembrar que existem valores de referência para as taxas hormonais e uma reposição só deve existir se os valores estiverem fora da normalidade! Se os valores estão normais, não é reposição. Por isso alguns usam o termo modulação, a qual nem ao menos é reconhecida pela Ciência, pois a simples ideia de dar doses "suplementares" de hormônios para melhorar estética e performance é considerada antiética.

Devemos entender que a maioria das drogas foi elaborada para repor os níveis de testosterona em homens, que produzem de 5 a 7mg/dia do hormônio. Uma mulher produz de 0,2 a 0,4 mg/dia, portanto, é muito difícil usar testosterona em mulheres pois mesmo as menores doses das drogas mais fracas farão elas terem níveis hormonais de homens, e poderão induzir masculinização, com crescimento de pelos, agravamento da voz, etc.

No final das contas, independente da forma que se tome ou do nome que se dê, se está simplesmente tomando bomba, com todos os riscos que isso acarreta. É como dizia um grande amigo “não existe almoço grátis”…

PS: e nada de sensualizar indevidamente, pois isso nada tem a ver terapias hormonais prescritas por médicos especializados, em situações clínicas!!

(Paulo Gentil)

quarta-feira, 16 de julho de 2014

CURIOSIDADES

Há uns dias um vídeo teve grande repercussão ao mostrar a mudança de voz de uma “musa” e fez muita gente se questionar o motivo de tantas mulheres malhadas terem vozes esquisitas. Bem, cientificamente eu posso assegurar que aspargos, pipoca..., batata doce, leg press de ladinho, whey protein, aeróbio em jejum, glúteos com caneleiras ou passadas na esteira não farão a voz de ninguém engrossar, da mesma forma que não transformarão o corpo de ninguém. No entanto, existem algumas coisinhas que conseguem fazer ambos...

Em um estudo publicado pelo grupo de Shalender Bhasin, homens jovens recebendo altas doses de testosterona chegaram a ganhar 8 quilos de músculo em cinco meses, mesmo sem fazer musculação! E tem também os estudos do grupo de Kvorning mostrando que a testosterona é importante na perda de gordura induzida pelo treinamento. Como as mulheres naturalmente possuem quantidades baixas de testosterona, a sua administração nelas promove efeitos ainda mais visíveis. Agora imagine, se uma pessoa consegue ganhar massa muscular e perder gordura usando testosterona mesmo sem fazer nada, será que podemos acreditar nos treinos recheados de invenções e palavrões e nas fotos antes e depois dessa galera de voz estranha?

A verdade é que muita gente tem se iludido e seguido pessoas que obtiveram resultados às custas de hormônios e acaba acreditando em orientações ineficientes e por vezes perigosas. Mas não existe mágica… não sem passar pela farmácia. Acordem, pessoal, as orientações e dicas que estão sendo vistas por aqui não são capazes de aumentar a massa muscular, diminuir a gordura corporal e muito menos engrossar a voz, já a testosterona…

Ah, e não ache que é uma boa ideia recorrer aos hormônios, pois a voz grossa é apenas um dos seus efeitos colaterais e nem de perto é o pior deles! E, sinceramente, com um pouco de cérebro e de paciência, acaba-se desistindo dessa ideia.

(Paulo Gentil)

Bhasin S, Travison TG, Storer TW, Lakshman K, Kaushik M, Mazer NA, Ngyuen AH, Davda MN, Jara H, Aakil A, Anderson S, Knapp PE, Hanka S, Mohammed N, Daou P, Miciek R, Ulloor J, Zhang A, Brooks B, Orwoll K, Hede-Brierley L, Eder R, Elmi A, Bhasin G, Collins L, Singh R, Basaria S. Effect of testosterone supplementation with and without a dual 5α-reductase inhibitor on fat-free mass in men with suppressed testosterone production: a randomized controlled trial. JAMA. 2012 Mar 7;307(9):931-9. doi: 10.1001/jama.2012.227.

Kvorning T, Andersen M, Brixen K, Madsen K. Suppression of endogenous testosterone production attenuates the response to strength training: a randomized, placebo-controlled, and blinded intervention study. Am J Physiol Endocrinol Metab. 2006 Dec;291(6):E1325-32. Epub 2006 Jul 25.
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MUSCULAÇÃO E AERÓBIO.... A ORDEM IMPORTA?

Musculação e aeróbio: a ordem importa?

Muita gente questiona se é melhor fazer musculação antes ou depois dos aeróbios. A minha pergunta normalmente é “por que fazer o aeróbio?”, se a pessoa achar que essa é a única opção para emagrecer, então, nem precisa continuar. Agora, se ela for apaixonada pela atividade, então vamos adiante!

Em um estudo de 8 semanas conduzido por Patrick Davitt, mulheres... não treinadas foram divididas em dois grupos, um grupo fazia musculação antes do aeróbio e outro fazia a ordem inversa. Os treinos foram realizados 4 vezes por semana, os aeróbios envolviam 30’ de atividade entre 70-80% da FC de reserva e a musculação envolvia 5-6 exercícios com 3 séries de 8-12 repetições. Ao final do estudo, não houve diferenças entre os grupos para as alterações nos ganhos de força, na capacidade aeróbia e nem nos ganhos de massa magra.

É importante ressaltar que um estudo do grande Eduardo Cadore (sem dúvidas o maior estudioso de treinamento concorrente do Brasil e, na minha opinião, um dos maiores do Mundo), idosos tiveram comprometimento dos ganhos de força quando o aeróbio foi feito antes da musculação.

Então, pessoal, para a maioria das pessoas a ordem entre aeróbios e musculação fará pouca diferença no final das contas. No entanto, temos que levar em conta questões práticas, como o cansaço gerado pela primeira atividade, o horário das aulas que a pessoa gosta de fazer, o incômodo em fazer a atividade após transpirar, etc. Enfim, se o aeróbio está sendo feito porque a pessoa se sente bem, então a escolha da ordem seguirá a mesma lógica!!

(Paulo Gentil)

Cadore EL, Izquierdo M, Pinto SS, Alberton CL, Pinto RS, Baroni BM, Vaz MA, Lanferdini FJ, Radaelli R, González-Izal M, Bottaro M, Kruel LF. Neuromuscular adaptations to concurrent training in the elderly: effects of intrasession exercise sequence. Age (Dordr). 2013 Jun;35(3):891-903.
Davitt PM, Pellegrino JK, Schanzer JR, Tjionas H, Arent SM. The effects of a combined resistance training and endurance exercise program in inactive college female subjects: does order matter? J Strength Cond Res. 2014 Jul;28(7):1937-45.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

ALGO SOBRE DORES LOMBARES

Em um estudo realizado no Instituto Cooper, em Dalas,foram investigadas as associações entre dores lombares e fatores relacionados à prática de exercícios em 4610 pessoas. De acordo com os resultados, a realização de atividades de fortaleci...mento muscular, como um todo, não foi associada a uma menor incidência de dores lombares. Agora vem a parte interessante, aqueles que treinavam em máquinas tinha maior incidência de dor lombar, o que não acontecia com quem treinava em pesos livres. Ou seja, o bom mesmo parece ser treinar com pesos livres! Aí é necessário esclarecer duas coisas: 1) por que isso ocorre? 2) quais as implicações disso?

1) É como falo no livro (Bases científicas do treinamento de hipertrofia): “A utilização de máquinas pode ser menos segura em longo prazo, pois ao realizar os exercícios separadamente pode ocorrer incremento de força em músculos isolados, desacompanhado do respectivo padrão motor. O aluno provavelmente se sentirá mais apto a utilizar uma carga maior quando começar a treinar com pesos livres, porém seus estabilizadores e sinergistas não estarão preparados para o movimento e, em longo prazo, isto pode resultar em lesões”. Nesse sentido, alguns problemas poderiam ocorrer com quem abre mão do agachamento para treinar em máquinas poderiam ser o trabalho deficiente da musculatura da região lombar, abdominal e do quadril, tanto em termos de ativação quando de fortalecimento.

2) a implicação disso é que os movimentos básicos, como agachamentos, supinos, levantamentos… devem fazer parte de sua série. Isso não significa, no entanto, que “quanto mais liberdade, melhor”, do contrário os acrobatas, invencionistas, sentimentalistas e todo tipo de doido vai achar que você terá uma vida melhor se conseguir agachar com uma perna só em cima de um dumbell! Também não significa que máquinas devam ser proibidas, apenas que seu treino não deve ser centralizado nelas.

Então… vamos aos pesos livres!

(Paulo Gentil)

Sandler RD, Sui X, Church TS, Fritz SL, Beattie PF, Blair SN. Are flexibility and muscle-strengthening activities associated with a higher risk of developing low back pain? J Sci Med Sport. 2014 Jul;17(4):361-5. doi: 10.1016/j.jsams.2013.07.016. Epub 2013 Aug 8.
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