quinta-feira, 29 de abril de 2021

RISCOS E BENEFICIOS DOS ESTERÓIDES ANABOLIZANTES

 Falar de bomba, gera emoções fortes. Em primeiro lugar, isso descontrói um castelo de cartas, pois mostra que elas fazem milagres sim, mesmo para quem treina mal e se alimenta mal, aí a galera da força, foco e fé fica chateada (https://youtu.be/Znif1d6pxJ0

). Em segundo, ao revelar que os riscos são altos e usuários possuem risco de morrer maiores que obesos e equivalentes ou maiores que fumantes e alcoolatras (https://youtu.be/KK_UVNQ99fM
). Eu deixei os vídeos gravados para mostrar para quem esperneia já que o tema sempre volta à tona.
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Vou mostrar um estudo aqui recente que considero bem imparcial. Foi o acompanhamento de 100 homens que usavam esteróides anabolizantes (Smit et al., 2021). As avaliações foram feitas no começo, após término do ciclo, três meses após o término e um ano após o começo do ciclo. Sobre os efeitos positivos, não teve erro, 100% teve algum benefício, como ganho de força, no entanto 100% também reportou algum efeito colateral. No entanto, esse efeito variava entre leve e grave (como insuficiência cardíaca, tendência suicida, pancreative ou agravamento de colite). Os efeitos colaterais mais comuns durante o cicle eram retenção hídrica e agitação. Após o ciclo mais da metade (58%) teve queda na libido. Acne e ginecomastia também foram comuns, além de ser constada elevação nas enzimas hepáticas, sugerindo sobrecarga no fígado.
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Então aqui eu resumo simples assim. 1) dá um puta resultado, tanto que a galera bota o shape mesmo fazendo um monte de merda. 2) muita gente experimenta efeitos leves e transitórios (tipo a paumolescência), mas há aumento do risco de problema, o que não significa certeza de risco, fato que faz com que o uso dessas drogas seja comparável a diversas outras.
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É só isso mesmo. Quem quiser usar, fique à vontade. Mas não ache que seria o super-homem sem a bomba e também não ache que é super saudável com as bombas. Beijos de luz.
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O artigo será disponibilizado no meu grupo do Telegram (t.me/drpaulogentil
).
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com
)
Smit DL, Buijs MM, de Hon O, den Heijer M, de Ronde W. Positive and negative side effects of androgen abuse. The HAARLEM study: A one-year prospective cohort study in 100 men. Scand J Med Sci Sports. 2021 Feb;31(2):427-438. doi: 10.1111/sms.13843. Epub 2020 Nov 4. PMID: 33038020.

AERÓBIO + MUSCULAÇÃO, IMPLICAÇÕES NO DESEMPENHO

 A combinação de aeróbios e musculação é um tema que gera muita discussão e dúvidas. Na terça passada fiz a primeira aula da série em que tratei sobre os efeitos no desempenho aeróbio e força muscular. Algumas coisas que ficaram claras são não há qualquer evidência de que o treino de força prejudique os ganhos de desempenho nos testes aeróbios, portanto, quem é da endurance não precisa temer, pelo contrário, o treino de força pode ajudar em diversos aspectos (veja aula de musculação para corredores no #Nerdflix, https://nerdflix.paulogentil.com/

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Mas na força a interação de aeróbio e musculação depende da dose e via fisiológica. Combinar treinos aeróbios e de força, ambos em intensidade moderada, costumam não causar prejuízos um ao outro. Mas quando o aeróbio começa e ser mais volumoso e intenso, os ganhos de força começam a ser prejudicados, especialmente quando o aeróbio é feito antes da musculação. Se o treino de musculação for até a fadiga, aí a coisa pode piorar mais ainda!!
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Outro ponto interessante é a dependência dos testes realizados. A influência é maior quando os testes são complexos e requerem aprendizado (como uma repetição máxima de agachamento). No entanto, ela é pequena nos teses simples inespecíficos (como força isométrica me um exercício uniarticular).
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Além de importante para quem busca performance, também deve-se pensar nisso para quem treina visando saúde. Eu sugeriria evitar aeróbios de alto volume ou alta intensidade antes de treinos complexos devido à fadiga neural. Isso pode ser importante para facilitar o aprendizado do exercício e mesmo para prevenir lesões (algo que até destaquei quando falei de crossfit) já que o prejuízo na técnica pode vir acompanhado também de maior risco de lesões crônicas (pela repetição de movimentos “errados”) e agudas (pelo risco de acidentes).
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Enfim, a coisa é bem complexa e vocês podem ver mais detalhes na aula do Nerdflix (https://nerdflix.paulogentil.com/
). O papo sobre treino concorrente continua hoje às 21:30 no meu Instagram em que falarei sobre a combinação de HIIT e musculação e falarei também sobre perda de gordura! Avisem todo mundo e marquem em suas agendas!

exercício pode ser o fator de risco modificável mais importante contra a covid-19

 A Educação Física vive algo complicado! Ela tem papel inegável na prevenção e tratamento de doenças e poderia ter papel central durante a Pandemia do COVID-19. Tudo seria perfeito se não fossem as pessoas da área que jogam contra! E não são apenas pessoas “comuns”, são professores e pesquisadores. Imagina que lindo se profissionais largassem suas vaidades e fanatismo político e lutassem por uma causa comum? Se parassem com a falácia que locais para prática de atividade física são locais de alto risco (devidamente derrubada nos vídeos e aulas sobre COVID no meu canal do YouTube e #Nerdflix) e fizessem parte da solução?

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Sallis et al. (2021) avaliaram 48.440 pessoas com COVID-19 que tinham avaliações dos níveis de atividade física nos meses anteriores e verificou que pessoas consistentemente inativas tinham 126% mais risco de serem hospitalizados, 73% de irem para UTI e de 149% morrer, comparado com as ativas! Antes que os detratores esperneiem sobre fatores de risco que as pessoas possam carregar 1) muitos desses fatores são prevenidos pelo exercício, como obesidade, diabetes e hipertensão. 2) o estudo controlou e fez regressões com fatores de risco conhecidos e conclui que “a magnitude do risco para todos os desfechos associados com ser consistentemente inativo (hospitalização, internação e morte) excede ... virtualmente todas as doenças crônicas estudadas na análise, indicando que a inatividade física desempenhe um papel crucial como fator de risco nos desfechos do COVID-19”.
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Os autores sugerem que os esforços para promover atividade física sejam priorizados pelas agências de Saúde e incorporados nos cuidados médicos de rotina e falam que a ATIVIDADE FÍSICA PODE SER O FATOR MODIFICÁVEL MAIS IMPORTANTE DE TODOS! Na boa, nego pode me odiar, mas esse é daqueles em que se resmunga no fundo da alma “o miserável do Paulo tem razão... de novo!”
O artigo será enviado no meu grupo do Telegram. Também recomendo as aulas sobre COVID-19 no Nerdflix, bem como a playlist sobre o tema no meu canal do YouTube. O link para tudo isso está em www.paulogentil.com/bio
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(Paulo Gentil – www.paulogentil.com
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Sallis et al. (2021). Physical inactivity is associated with a higher risk for severe COVID-19 outcomes: a study in 48 440 adult patients. Br J Sports Med. 2021 Apr 13:bjsports-2021-104080. doi: 10.1136/bjsports-2021-104080. Epub ahead of print. PMID: 33849909.

ANTICONCEPCIONAIS VS TESTOSTERONA

 Falar de anticoncepcional é sempre delicado! No entanto, é preciso diferenciar as coisas. Vamos começar esclarecendo que:

1) anticoncepcionais são medicamentos que devem ser prescritos por médicos de acordo com análise de custo-benefício;
2) os efeitos colaterais existem e fazem parte da análise citada anteriormente;
3) a decisão sobre usar ou não usar não deve ser influenciada por análises apaixonadas;
4) relatos ou percepções individuais não podem se sobrepor às evidências científicas.
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Dito isso, espero acalmar as pessoas dizem que anticoncepcional vai te matar, que é uma bomba de hormônio, que deixou de usar e sua vida virou uma mar de rosas...
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Como alguém que trabalha com exercício, sempre ressalto que a decisão do médico não deve ser confrontada com supostos prejuízos estéticos. Por exemplo, há quem interrompa um tratamento simplesmente por achar que o anticoncepcional vai engordar ou impedir de ganhar massa muscular. Isso normalmente é feito pela crença que uma suposta redução na testosterona teria alguma relevância. Mas, conforme explico nas aulas de Fisiologia Feminina do Nerdflix (https://nerdflix.paulogentil.com
), a redução na testosterona não é comprovada (até porque os exames comerciais não têm sensibilidade para isso) e, mesmo que ela ocorresse, seria irrelevante, porque os níveis já são muito baixos nas mulheres. Ou seja, não há base fisiológica para sugerir prejuízos estéticos.
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E isso foi constatado em um estudo de Dalgaard et al. (2021) no qual mulheres que não tomavam ou tomavam (~6,5 anos tomando os de segunda geração, com etinil estradiol) anticoncepcionais foram avaliadas após 10 semanas de treino, com controle da alimentação. Os ganhos de força foram similares entre os grupos. No entanto, houve uma tendência de maior ganho de massa magra para as que tomavam anticoncepcional. Além disso não havia diferença entre os grupos para a testosterona! .
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Por favor, antes de perturbar, leia o primeiro parágrafo novamente. Não é defesa ao remédio, é apenas um alerta contra a desinformação para que ninguém interrompa tratamentos ou questione a decisão de médicos baseado em falácias.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com
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Dalgaard LB, Jørgensen EB, Oxfeldt M, Dalgaard EB, Johansen FT, Karlsson M, Ringgaard S, Hansen M. Influence of Second Generation Oral Contraceptive Use on Adaptations to Resistance Training in Young Untrained Women. J Strength Cond Res.
2020 Jul 20. doi: 10.1519/JSC.0000000000003735.
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TREINAMENTO CONCORRENTE, QUANDO E PARA QUEM?

 As aulas sobre Treino Concorrente estão sendo incríveis, muitas dúvidas estão sendo esclarecidas e perspectivas estão sendo descobertas, respondendo dúvidas comuns das pessoas que praticam aeróbio e musculação. Estamos mostrando diversos fatores que influencia na interação entre as modalidades, como nível de treinamento.

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Por exemplo, uma revisão de literatura com meta-análise avaliou a interação entre aeróbio e musculação na força dinâmica de membros inferiores de pessoas em 3 níveis de treino: destreinado (fisicamente inativo e com < 3 meses de musculação), moderado (ativo e com < 3 meses de musculação) e treinado (ativo e com >3 meses de musculação). Os estudos envolviam musculação com >60% de 1RM ou com cargas menores, desde que feitos até a falha. Os aeróbios envolviam >70% da frequência cardíaca máxima e eram feitos pelo menos 2 x semana (Petré et al., 2021).
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Os resultados revelaram que não havia prejuízo nos ganhos de força para destreinados e moderadamente treinados, independente da ordem do exercício. Já para os treinados, os ganhos de força eram menores com o concorrente, especialmente se aeróbio e musculação eram separados por <20 minutos. E daí tiramos várias conclusões importantes, como o fato de que pessoas que estão começando ou que não buscam ganhos máximos de força não precisam se preocupar com a combinação (o que, convenhamos, é a maior parte das pessoas). Também vemos que separar as atividades com pelo menos duas horas e dar prioridade à musculação pode ser útil para pessoas treinadas que não querem ter prejuízos nos ganhos de força. Isso sem contar outros detalhes que falei nas aulas, como tipo de testes, tipo de aeróbio, intensidade, duração, etc.
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Recomendo que vejam as aulas sobre concorrente no #Nerdflix (https://nerdflix.paulogentil.com/
) para ver mais detalhes e também outros aspectos, como a perda de gordura, condicionamento físico, etc. Aproveito e lembro que hoje tem aula sobre os efeitos do treinamento concorrente na hipertrofia, às 21:00 (horário de Brasília) no meu Instagram (https://www.instagram.com/drpaulogentil
). E se você não puder ver ou quiser rever, fique tranquilo, pois ela ficará disponível no Nerdflix (https://nerdflix.paulogentil.com/
).
Para quem quiser o artigo completo, eu mandarei no meu grupo do Telegram . Para entrar veja o link t.me/drpaulogentil
ou www.paulogentil.com/bio
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(Paulo Gentil – www.paulogentil.com
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Petré et al. (2021). Development of Maximal Dynamic Strength During Concurrent Resistance and Endurance Training in Untrained, Moderately Trained, and Trained Individuals: A Systematic Review and Meta-analysis. Sports Med. 2021 May;51(5):991-1010. doi: 10.1007/s40279-021-01426-9. Epub 2021 Mar 22. PMID: 33751469.

SUPERCOFFEE??

 Mais uma vez aparece algo prometendo coisas que outros prometeram várias outras vezes. O tal do supercoffee promete coisas como: aumento da queima de gordura, melhoras cognitivas, melhoras no desempenho, etc. Eles vêm com cafeína, gordura (triglicerídeos de cadeia média) e alguns ainda acrescentam outras coisas como l-carnitina, picolinado de cromo, etc.

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Começando pelo começo, os efeitos da cafeína na queima de gordura e emagrecimento são negligenciáveis, sendo mais claro: não ajuda a emagrecer. A adição de L-carnitina não mudará nada. Apesar da L-carnitina participar do processo de oxidação da gordura, a quantidade disponível no seu corpo já é muito alta. Inclusive praticamente toda a L-canitina ingerida é eliminada pela urina. Sobre o desempenho, há evidências que a cafeína possa trazer benefícios para algumas pessoas e em alguns tipos de atividades, no entanto, a dose necessária é tão alta que um cara como eu precisaria tomar umas 6 doses de supercoffee para ter algum benefício. Ou seja, seria melhor tomar a cafeína pura, seria mais barato e viria sem os adicionais inúteis. Aqui vale lembrar que as doses altas de cafeína têm uma série de efeitos colaterais importantes, inclusive no sistema cardiovascular.
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Sobre a adição dos triglicerídeos de cadeia média, nada mais é do que um regaste da adição do óleo de coco ao café, algo que estraga o sabor da bebida e não te traz nenhum benefício. Inclusive participei de um estudo no qual comparamos 4 situações: 1) placebo, 2) cafeína (6mg/kg) 3) cafeína + 15g óleo de soja, 4) cafeína + 15g óleo de coco extra virgem. Como resultado, não houve diferenças nos níveis de lactato, na performance e nem na percepção de esforço no teste de 1.600m entre as situações. Ou seja, nem tomar cafeína sozinho e nem com óleo de coco foram capazes de aumentar o desempenho em pessoas ativas (Borba et al., 2019).
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Então, vai a dica do bem. Se quiserem ter resultados, se alimentem bem, treinem bem e fiquem sabendo que esses supercoffees só vão fazer vocês de super trouxas!
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Para quem quiser o artigo completo, eu mandarei no meu grupo do Telegram. Para entrar veja o link t.me/drpaulogentil
ou vai em www.paulogentil.com/bio
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Borba GL, Batista JSF, Novais LMQ, Silva MB, Silva Júnior JBD, Gentil P, Marini ACB, Giglio BM, Pimentel GD. Acute Caffeine and Coconut Oil Intake, Isolated or Combined, Does Not Improve Running Times of Recreational Runners: A Randomized, Placebo-Controlled and Crossover Study. Nutrients. 2019 Jul 20;11(7). pii: E1661. doi: 10.3390/nu11071661

terça-feira, 13 de abril de 2021

PESSOAS ATIVAS TEM 6 VEZES MENOS RISCO DE MORRER DE COVID-19

 

Isso é o que sugere um estudo retrospectivo com pessoas de 18 a 70 anos que foram internadas por COVID-19 em um hospital de Madri (Salgado-Aranda et al., 2021). As análises mostraram que as pessoas sedentárias tinham um risco de morrer 5,91 vezes maior que as ativas. Para as ativas, a taxa de mortalidade entre as pessoas hospitalizadas era de 1,8%, contra 13,8% nos sedentários. Além disso, os sedentários tinham maior frequência de inflamação sistêmica, insuficiência respiratória e renal. Importante destacar que o risco para os sedentários foi maior mesmo ajustado por outros fatores. Se considerarmos que o exercício ainda ajuda a controlar fatores associados à mortalidade (como diabetes, hipertensão e sobrepeso), além de reduzir o risco de hospitalização, veremos que o papel do exercício é ainda melhor do que se pode imaginar!
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Em que pesem as limitações de um estudo retrospectivo, essa é uma evidência que se soma a várias outras, inclusive sobre possíveis mecanismos, conforme falo no vídeo sobre Exercício vs. COVID disponível no Nerdflix (https://nerdflix.paulogentil.com
). Mas o que acontece? As pessoas são obrigadas a ficarem em casa, academias ficam fechadas e há proibição de andar em parques, ruas ou entrar no mar.
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Por favor, não seja o militante que xinga e usa falácias. Eu tenho um vídeo no YouTube explicando que não há risco em sair de casa para fazer atividade física, tenho vídeos analisando riscos das academias e também vídeos mostrando que os efeitos do lockdown na redução do problema são altamente questionáveis. Portanto, qualquer comentário a esses pontos sem olhar as evidências demonstra precipitação histérica. Não sejam histéricos precipitados.
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O estudo vai para meu grupo do Telegram (para entrar veja o https://www.paulogentil.com/bio/
ou vai direto em t.me/drpaulogentil
) e recomendo muito que vejam a playlist sobre COVID-19 no meu canal do YouTube (https://youtube.com/drpaulogentil
)
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com
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Salgado-Aranda R, Pérez-Castellano N, Núñez-Gil I, Orozco AJ, Torres-Esquivel N, Flores-Soler J, Chamaisse-Akari A, Mclnerney A, Vergara-Uzcategui C, Wang L, González-Ferrer JJ, Filgueiras-Rama D, Cañadas-Godoy V, Macaya-Miguel C, Pérez-Villacastín J. Influence of Baseline Physical Activity as a Modifying Factor on COVID-19 Mortality: A Single-Center, Retrospective Study. Infect Dis Ther. 2021 Mar 14:1–14. doi: 10.1007/s40121-021-00418-6. Epub ahead of print. PMID: 33715099; PMCID: PMC7955903.