sexta-feira, 6 de abril de 2018

EVIDENCIAS SOBRE ELETROESTIMULAÇÃO


Fiz um post alertando para os problemas e as mentiras associadas à eletroestimulação (EMS). Alguns me xingaram, uns me ameaçaram, outros me mandaram estudar... ...Nada de novo. Mas o que deixou impressionado de verdade, foi descobrir o tanto de gente que vende esse negócio. Logo eles fizeram publicações defendendo o uso do produto, cheias de argumentações falaciosas, tipo dizer que determinada Universidade estuda o produto, como se houvesse apoio institucional. Mais ainda, na tentativa de convencer os leitores, falaram em evidências científicas e até fazem referência a uns estudos. Para ter certeza que eu não estou sendo um cara sacana, eu li TODOS eles e vou aqui lhes apresentar o resumo da ópera.
Mas, antes de seguir vou relembrar as promessas encontradas nos sites dos vendedores: “Tonificação de diferentes músculos como abdômen, glúteos, braços, pernas, etc.”, “Redução de gordura corporal, celulite e flacidez”, “Aumento da capacidade dos treinos de alta performance”, “Melhora na força, aptidão, resistência e estética corporal”, “Equilibrio do sistema muscular”, “Estímulo da produção de colágeno e fluxo sanguíneo na pele”, “Aumento duradouro de consumo de energia pelo corpo”, “Economia de tempo”, “Redução das dores nas costas”, “Proteção das articulações”. Inclusive um deles fala “Nós ajudamos nossos clientes a treinar de maneira mais eficiente e nossos parceiros a ter sucesso em seus negócios”.
Deu água na boca, né? Mas vamos aos estudos. Começamos pelos que devem ser removidos da conversa, tipo Filipovic et al. que usaram EMS em jogadores de futebol (2016) e avaliaram deformabilidade dos glóbulos vermelhos (2015). Também não dá para considerar Kemmler & von Stengel (2012) pois é uma revisão com evidências frágeis sugerindo uso de EMS para idosos frágeis. Mustafa & Ozgur (2009), reportam perda de 3kg de gordura em 8 semanas, mas é um estudo duvidoso, publicado em um jornal estranho e sem controle da dieta. Por falar em estudo estranho, Ahmad & Hasbullah (2015) fazem propaganda sem ao menos mostrar os resultados do experimento!
Seguindo a brincadeira, temos Kemmler et al. (2013), Kemmler et al. (2017), Humbert et al. (2009), Wittman et al. (2016) e Van Buuren et al. (2015) os quais sugerem que, quando comparado com NADA, a EMS pode ser boa para idosos, diabéticos, etc (que fique claro que é quando comparado com NADA, ok?). Mesmo em idosos, vale citar os estudos de von Stengel (2015) e Kemmler & von Stengel (2013) nos quais, após mais de UM ANO, idosos não melhoraram a densidade óssea, e ganharam míseros 0,5% na massa muscular e perderam 1,2% da gordura abdominal. Após mais de um ano!!
Sobre jovens, Kemler et al. ( 2016a, 2016b) têm estudos de 4 meses em que pessoas destreinadas reduziram em 1% o percentual de gordura e ganharam 600g de massa magra. Antes disso, Kemmler et al. ( 2010) não encontraram aumento no metabolismo de repouso com EMS e nem diferenças na perda de peso em relação a quem não fez NADA. Diz aí, esse produto é bichão, hein?
E tem as coincidências. Praticamente todos estudos mostrados citam os fabricantes em seus agradecimentos. Se formos nos estudos “esquecidos” pelos vendedores, achamos Porcari et al. (2002) que afirmam que EMS não tem efeito na composição corporal, força e aparência física e concluem que as promessas associados ao produto não se justificam.
Antes de mimimi ou falar em generalização, volte e leia o que dizem as propagandas. O texto é sobre isso. E aí, alguém quer um lenço?
PS: ainda não entenderam que me ameaçar e desafiar tem justamente o efeito contrário?
(Paulo Gentil)
Ahmad MF & Hasbullah AH (2015). The Effects of Electrical Muscle Stimulation (EMS) towards Male Skeletal Muscle Mass. Int J Sport Heal Sci 9, 860–869.
van Buuren F, Horstkotte D, Mellwig KP, Fründ A, Vlachojannis M, Bogunovic N, Dimitriadis Z, Vortherms J, Humphrey R & Niebauer J (2015). Electrical Myostimulation (EMS) Improves Glucose Metabolism and Oxygen Uptake in Type 2 Diabetes Mellitus Patients—Results from the EMS Study. Diabetes Technol Ther 17, 413–419.
Filipovic A, Grau M, Kleinöder H, Zimmer P, Hollmann W & Bloch W (2016). Effects of a Whole-Body Electrostimulation Program on Strength, Sprinting, Jumping, and Kicking Capacity in Elite Soccer Players. J Sports Sci Med 15, 639–648.
Filipovic A, Kleinöder H, Plück D, Hollmann W, Bloch W & Grau M (2015). Influence of Whole-Body Electrostimulation on Human Red Blood Cell Deformability. J Strength Cond Res 29, 2570–2578.
Humpert PM, Morcos M, Oikonomou D, Schaefer K, Hamann A, Bierhaus A, Schilling T & Nawroth PP (2009). External Electric Muscle Stimulation Improves Burning Sensations and Sleeping Disturbances in Patients with Type 2 Diabetes and Symptomatic Neuropathy. Pain Med 10, 413–419.
Kemmler W, Bebenek; M & von Stengel S (2013). Effects of Whole-Body-Electromyostimulation on Bone Mineral Density in lean, sedentary elderly women with osteopenia: The randomized controlled TEST-III Study. Osteologie 22, 121–128.
Kemmler W, Kohl M & Stengel S von (2016a). Effects of High Intensity Resistance Training Versus Whole-Body Electromyostimulation on Cardio-Metabolic Risk Factors in Untrained Middle Aged Males. A Randomized Controlled Trial. J Sport Res 3, 44–55.
Kemmler W, Schliffka R, Mayhew JL & von Stengel S (2010). Effects of Whole-Body Electromyostimulation on Resting Metabolic Rate, Body Composition, and Maximum Strength in Postmenopausal Women: the Training and ElectroStimulation Trial. J Strength Cond Res 24, 1880–1887.
Kemmler W & von Stengel S (2012). Alternative Exercise Technologies to Fight against Sarcopenia at Old Age: A Series of Studies and Review. J Aging Res 2012, 1–8.
Kemmler W & von Stengel S (2013). Whole-body electromyostimulation as a means to impact muscle mass and abdominal body fat in lean, sedentary, older female adults: subanalysis of the TEST-III trial. Clin Interv Aging 8, 1353.
Kemmler W, Teschler M, Weißenfels A, Bebenek M, Fröhlich M, Kohl M & von Stengel S (2016b). Effects of Whole-Body Electromyostimulation versus High-Intensity Resistance Exercise on Body Composition and Strength: A Randomized Controlled Study. Evid Based Complement Alternat Med 2016, 9236809.
Kemmler W, Weissenfels A, Teschler M, Willert S, Bebenek M, Shojaa M, Kohl M, Freiberger E, Sieber C & von Stengel S (2017). Whole-body electromyostimulation and protein supplementation favorably affect sarcopenic obesity in community-dwelling older men at risk: the randomized controlled FranSO study. Clin Interv Aging 12, 1503–1513.
Mustafa à & Ã�zgür B (2009). Archives of Applied Science Research. Scholars Research Library. Available at: http://www.scholarsresearchlibrary.com/…/effects-of-wholebo… [Accessed April 4, 2018].
Porcari JP, McLean KP, Foster C, Kernozek T, Crenshaw B & Swenson C (2002). Effects of electrical muscle stimulation on body composition, muscle strength, and physical appearance. J strength Cond Res 16, 165–172.
von Stengel S, Bebenek M, Engelke K & Kemmler W (2015). Whole-Body Electromyostimulation to Fight Osteopenia in Elderly Females: The Randomized Controlled Training and Electrostimulation Trial (TEST-III). J Osteoporos 2015, 643520.
Wittmann K, Sieber C, von Stengel S, Kohl M, Freiberger E, Jakob F, Lell M, Engelke K & Kemmler W (2016). Impact of whole body electromyostimulation on cardiometabolic risk factors in older women with sarcopenic obesity: the randomized controlled FORMOsA-sarcopenic obesity study. Clin Interv Aging Volume 11, 1697–1706.

Nenhum comentário:

Postar um comentário