quinta-feira, 30 de junho de 2016

O "CHIP" DA BELEZA??

Há muitas dúvidas sobre a gestrinona, vendida como “chip da beleza (G6)”. Ao buscar por “gestrinone” no Pubmed apareceram 46 artigos de revisão, a maioria sobre... endometriose e vários questionando seu custo-benefício, devido aos efeitos colaterais. Em seres humanos foram 146 estudos, sendo que NENHUM relata uso cosmético. Não há sequer um relato de que ele deva ser usada para perda de gordura ou ganho de massa muscular! Então, por que o “chip da beleza”?
Após anos estudando a adaptação das mulheres ao exercício, percebi que há uma visão muito limitada da fisiologia feminina. Aproveitando disso, oportunistas estão levando mulheres a acreditarem que seus hormônios sejam maléficos e indiscriminadamente vendem drogas que alteram o funcionamento do seu organismo. Mas hormônios femininos não são coisa do demônio! O estrogênio tem efeitos benéficos na massa óssea e no metabolismo, tanto que sua deficiência é associada à osteoporose e obesidade. Além disso, estudos mostram que a progesterona tem efeitos anabólicos similares à testosterona e seus níveis são associados aos ganhos de massa muscular (Sakamaki et al., 2012, Smith et al., 2014). Isso mesmo, mulheres, seus hormônios têm efeitos fisiológicos importantes, tanto para sua saúde e quanto para estética.
O componente desse “chip da beleza” (gestrinona) é um esteroide anabolizante com efeitos androgênicos (vulgo, bomba) que tem efeitos negativos no estrogênio e progesterona e pode resultar em crescimento anormal de pelos, cabelo e pele oleosos, acne, agravamento da voz, redução na libido, dor de cabeça, depressão, cansaço... (Goyal, 2011). Não entendo como podem vender como “chip da beleza” uma droga que masculiniza as mulheres! Então “belo” é deixar de ser mulher? Isso sem contar os riscos cardiovasculares, tumores e até mesmo transtornos psiquiátricos.
Não estou questionando o uso clínico da gestrinona. O que me preocupa é sua aplicação com promessas “fitness”! Isso é charlatanismo! Pior, isso é perigoso, pois gera desequilíbrio endócrino em troca de benefícios questionáveis. Mulheres, não acreditem em charlatães com conhecimento parcial e abordagens irresponsáveis, vocês foram feitas diferentes dos homens. Isso não quer dizer que sejam fisiologicamente piores, apenas diferentes.
(Paulo Gentil)
Goyal, A. 2011. Breast pain. BMJ Clin Evid 2011.
Sakamaki, M., Yasuda, T. & Abe, T. 2012. Comparison of low-intensity blood flow-restricted training-induced muscular hypertrophy in eumenorrheic women in the follicular phase and luteal phase and age-matched men. Clin Physiol Funct Imaging 32:185-91.
Smith, G. I., Yoshino, J., Reeds, D. N., Bradley, D., Burrows, R. E., Heisey, H. D., Moseley, A. C. & Mittendorfer, B. 2014. Testosterone and progesterone, but not estradiol, stimulate muscle protein synthesis in postmenopausal women. J Clin Endocrinol Metab 99:256-65.

Nenhum comentário:

Postar um comentário