quinta-feira, 8 de julho de 2021

TRANSGENEROS, FISIOLOGIA E MIMIMI

 Tenho sido muito perguntado sobre a questão dos transgêneros, especialmente dos homens que optam por serem mulheres. Apesar de o tratamento hormonal não mudar o DNA (continuará tendo cromossomos XY), as terapias mudarão vários aspectos fisiológicos e se questiona se essas mudanças seriam suficientes para tornar justa a competição com mulheres cis (que foda tentar falar sem gerar mimimi!).

A testosterona liberada durante os anos de amadurecimento promove alterações que permanecerão por longo prazo, como a estatura, proporções corporais, ângulo de penação das fibras e quantidade de células satélites (veja aula do #Nerdflix sobre Fisiologia Feminina pelo link https://nerdflix.paulogentil.com/
). Com isso, algumas diferenças dificilmente serão “corrigidas” em tempo e magnitudes necessárias para nivelar o desempenho. Estudo realizado por Roberts et al. (2021) com pessoas da Força Aérea mostram que 2,5 de tratamento feminilizante não mudam o peso e composição corporal. Apesar do tratamento promover progressiva redução no desempenho de flexões, abdominais e corridas, o desempenho na prova de 2.400m permaneceu maior por pelo menos 2,5 anos. Em estudo anterior Wilk et al. (2020) verificou que, mesmo após 1 ano de tratamentos, mulheres trans eram mais musculosas e produziam mais força que mulheres cis! Detalhe que foram estudos com não atletas que, antes da terapia, tinham desempenho menor que homens cis.
Enfim, do ponto de vista fisiológico, haverá algumas mudanças com o tratamento, mas será que elas são suficientes? Adoraria ouvir suas opiniões, mas antes proponho algumas reflexões: 1) nem todo mundo nasce apto a fazer tudo que deseja (eu mesmo não tenho biotipo nem habilidade para vários esportes), 2) como se sentem as mulheres cis em competir com os transgêneros? 3) como seria o futuro do esporte feminino se houver disseminação de transgêneros, especialmente em modalidades de combate, força e potência? 4) será que a perspectiva muda se pensarmos em um atleta que passou por anos de treinamento tendo níveis altos de testosterona? 5) por que não tem homens trans no alto nível do esporte masculino?
PS: Está cada vez mais difícil ser técnico, pois o patrulhamento é tão grande que nem ao menos sabemos qual o termo da vez para ser usado em cada caso. Um dia uma palavra era comum, em outro vira palavrão, depois vira elogio, depois vira crime... então estou usando o termo que consta no artigo, ok? Se você ler após “transgênero” se tornar palavrão, por favor, considere o momento histórico.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com
)
Roberts TA, Smalley J, Ahrendt D. Effect of gender affirming hormones on athletic performance in transwomen and transmen: implications for sporting organisations and legislators. Br J Sports Med. 2020 Dec 7:bjsports-2020-102329. doi: 10.1136/bjsports-2020-102329. Epub ahead of print. PMID: 33288617.
Wiik A, Lundberg TR, Rullman E, Andersson DP, Holmberg M, Mandić M, Brismar TB, Dahlqvist Leinhard O, Chanpen S, Flanagan JN, Arver S, Gustafsson T. Muscle Strength, Size, and Composition Following 12 Months of Gender-affirming Treatment in Transgender Individuals. J Clin Endocrinol Metab. 2020 Mar 1;105(3):dgz247. doi: 10.1210/clinem/dgz247. PMID: 31794605.

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