quarta-feira, 8 de abril de 2020

MULHERES SAO MAIS RESISTENTES

Estudei mulheres por muitos anos, e sigo estudando. Meu primeiro choque foi perceber o quão pouco sabemos sobre especificidades dos sexos. Essa falta de conhecimento, gerou inúmeros preconceitos e bobagens, como as falas sobre anticoncepcionais, ciclo menstrual, etc (veja a aula de Fisiologia Feminina no #nerdflix, em https://aulas.paulogentil.com/, link no perfil). Mas existem coisas que mudam e que realmente precisamos saber, como a tolerância à fadiga. Eu participei de um estudo com colegas ingleses e alemães que pode ajudar a explicar a questão (Stuart et al. 2018). Nele, comparamos as respostas agudas de homens e mulheres durante a extensão lombar em treinos 50% ou 80% de 1RM. Ao final do treino com 80%, os homens tinham perdido 21,3% da força isométrica, contra 10% nas mulheres. Para as cargas baixas, a redução foi 33,3% para os homens e 25,9% para as mulheres. Além disso, com 50% da carga os homens permaneciam 133s em atividade enquanto as mulheres ficavam 174s. Interessantemente, um estudo anterior do nosso grupo (Gentil et al. 2017) havia colocado homens e mulheres, treinados e destreinados para fazer 30 repetições máximas de flexores de cotovelo em um dinamômetro isocinético (assim conseguíamos ver a força de cada repetição e ver quanto se perdia ao longo da série) e vimos que, entre os treinados, as mulheres tinham um índice de fadiga de 38%, enquanto os homens tinham 46%. Entre os não treinados, as mulheres acumulavam 46% de fadiga contra 52% dos homens! Em todos os casos, as mulheres ganhavam dos homens.
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Para o profissional, é importante saber disso, pois pode ser necessário que as mulheres façam mais repetições para uma mesma carga relativa, reduzam menos a carga entre as séries ou que usem intervalos menores. Para a sociedade, pode ser uma curiosidade interessante ao mostrar vantagens do sexo feminino, especialmente em tempos em que as pessoas estão tratando o organismo feminino como coisa do mal e querendo a todo custo masculinizar as mulheres, desde dando hormônios até fazendo procedimentos que deformam seus rostos.
(Paulo Gentil – www.paulogentil.com)
Gentil P, Campos MH, Soares S, Costa GCT, Paoli A, Bianco A, Bottaro M. Comparison of elbow flexor isokinetic peak torque and fatigue index between men and women of different training level. Eur J Transl Myol. 2017 Dec 5;27(4):7070. doi: 10.4081/ejtm.2017.7070. eCollection 2017 Dec 5.
Stuart C, Steele J, Gentil P, Giessing J, Fisher JP. Fatigue and perceptual responses of heavier- and lighter-load isolated lumbar extension resistance exercise in males and females. PeerJ. 2018 Mar 16;6:e4523. doi: 10.7717/peerj.4523. eCollection 2018.

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