quarta-feira, 7 de maio de 2014

Algo técnico e cientifico sobre a cor de pele e o racismo


Ok, está na moda postar foto com banana e mandar recados contra o racismo. Então, não farei nada disso. Como já vi muitas opiniões pertinentes, coerentes e merecidamente duras, apenas complementarei com uma opinião técnica sobre o tema. A p...opulação brasileira é proveniente da mistura de três grandes grupos populacionais: africano, europeu e nativos americanos. No meu mestrado, nós analisávamos traços de ancestralidade para verificar a sua influência em fenótipos de interesse e isso era feito por marcadores moleculares, em vez da análise da cor da pele ou do autorrelato. E fazíamos isso porque sabemos que a cor da pele define muito pouco da origem de uma pessoa, especialmente numa população tão miscigenada como a brasileira. Para se ter ideia, em um estudo que publicamos no Journal of Epidemiology verificamos que as pessoas que se reportavam negras tinham 53% dos marcadores de ancestralidade não africanos. Havia, por exemplo, uma voluntária que tinha a pele negra e possuíam 78% dos seus marcadores de ancestralidade europeus. Tanto que falamos no artigo que "de um ponto de vista sociológico e antropológico, a ancestralidade biológica de uma pessoa pode não ter relação com a sua identificação com um grupo cultual".

Então, tecnicamente, eu diria três coisas para alguém que atira uma banana a um brasileiro cuja pele indica uma origem negra ou mestiça 1) a cor da pele significa muito menos que se imagina 2) ele pode estar jogando bananas para alguém mais europeu do que ele 3) que atitude idiota!

(Paulo Gentil)

Lins TC, Vieira RG, Abreu BS, Gentil P, Moreno-Lima R, Oliveira RJ, Pereira RW. Genetic heterogeneity of self-reported ancestry groups in an admixed Brazilian population. J Epidemiol. 2011;21(4):240-5. Epub 2011 Apr 16.
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